Como descobrir a vocação?

Hoje em dia pensar em vocação é um tema adormecido ou esquecido para muitas pessoas. Isso ocorre porque há na cultura moderna, uma tendência maior de olhar mais para fora de si do que para dentro de si e a vocação é algo escondido no profundo do nosso ser, diz respeito a nossa própria existência. Alguns acham que vocação é algo restrito para quem tem um chamado especial, como para ser padre ou religioso. Isso é um engano, pois a vocação faz parte da vida de todo homem. Cada pessoa humana foi criada por Deus com uma vocação específica. Cada ser humano traz em si, na sua essência mais profunda, um chamado que dá sentido a sua existência, um chamado a ser de determinado modo e de realizar algo, isso é vocação. A vocação é um chamado à liberdade. A vocação toca a pessoa no modo como ela deve viver a vida cristã, o seu batismo – como leigo, leigo consagrado, religioso ou sacerdote – e também se relaciona ao seu estado de vida – o chamado ao matrimônio, à castidade consagrada ou o sacerdócio. Os modos de viver o batismo e o estados de vida estão logicamente correlacionados, dizem respeito a uma única vocação da pessoa e são coerentes entre si. Cada pessoa deveria descobrir primeiramente sua vocação (o modo de viver o batismo) e a partir dela o seu estado de vida. Para descobrir a própria vocação é preciso trilhar um caminho de discernimento. É preciso entender que vocação não se dá por acaso na vida de alguém e também não é uma escolha aleatória que se faz diante de várias alternativas, mas está escrita no coração de cada pessoa desde o momento no qual Deus a criou. Por isso para encontrar a própria vocação é preciso cavar dentro da sua própria história e ir descobrindo o fio que liga os fatos da sua vida, as intervenções e manifestações de Deus que apontam para algo específico. É reconhecer, dentro da própria história, o projeto de Deus que lhe chama para uma missão. A descoberta da vocação é um trabalho de construção de si mesmo, da sua própria identidade. Um trabalho que exige atenção, escuta, paciência, docilidade para acolher a palavra de Deus, sensibilidade e também a ajuda de um orientador ou diretor espiritual. O orientador é quem ensina distinguir a voz de Deus e também a responder ao chamado que Ele faz, assim como foi a ajuda de Heli para Samuel (cf Sm 3, 3-19). Neste processo, para ouvir o chamado é preciso estar atento como Samuel que repousava junto a arca. Faz-se necessário estar na presença de Deus, o que acontece por uma vida de oração fecunda. Também é preciso desejar acolher a vontade de Deus para poder ouvi-lo. “Fala, Senhor, que teu servo escuta”. Diante de um chamado é natural ter dúvidas, medo das conseqüências e tentar esquivar-se. Moisés também passou por isso. É a força da experiência de Deus que dá coragem para vencer o medo e responder ao chamado. Pedro também teve medo das conseqüências de seguir Jesus e por isso O negou três vezes (Jo 18,17. 25-26), mas depois da experiência do olhar de Jesus entendeu o Seu amor e, então, deu sua resposta assumindo sua vocação (Jo 21, 15-19). A vocação autêntica nasce no terreno da gratidão, pois a vocação é uma resposta, não é uma iniciativa da pessoa.

Não podemos brincar com a fera...

  

“Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar.” (I Pd. 5,8) Muitos já perderam a vocação e a fé por brincar com a fera. Por isso, não podemos ficar colocando nossa vocação em risco, dando brechas para o demônio. Como nos fala as escrituras: “Não deis oportunidade ao diabo”.(Ef.9,27) Cada um sabe onde o calo aperta…cada qual conhece o seu espinho na carne. Somos humanos e carnais. Então, porque brincar com as fraquezas?

A ordem de Jesus é:

“Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”(Mateus 26,41)

 

Nunca foi fácil descobrir a própria vocação e ter a certeza de não errar. Enquanto seres humanos, vivemos, vivemos mergulhados nas relidades do mundo, influenciados pelas idéias, pelas emoções e por tudo o que nos circunda. O que nos parece certo à noite pode ser que pela manhã, ao levantarmos, não seja mais tão certo como parecia. Ao meio-dia podemos ter, influenciados pelos acontecimentos, uma idéia diferente, a à noite termos uma visão nova da realidade e do mundo.  O discernimento é uma atitude permanente do ser humanoque procura acertar os seus passos para alcançar o ideal a que se propõe na abertura interior e intelectual à vontade de Deus, que pode mudar a sua contextualização. O diretor espiritual não se coloca na vida de alguém como aquele que decide, determina, traça caminhos e obriga os outros a seguir, mas como alguém que, tendo colocado na escuta da palavra e na observação dos sinais, orienta o dirigido para que ele tome as suas decisões com maior responsabilidade. Todos nós sabemos que a felicidade está em fazer aquilo que gostamos. Mas os gostos podem mudare por isso há quem defenda que vocações que duram para sempre seja utopia. No entanto devemos também admitir que mudar constantemente de rumo não leva a lugar algum. A força do amor faz com que possamos entregar a nossa vida corajosamente, não às estruturas, mas às pessoas. Jesus merece a nossa vida, bem como as pessoas que amamos, escolhemos e decidimos amar para sempre.
A vida não é feita de relacionamento com coisas, mas de relacionamento com a própria vida. O discernimento espiritual vocacional, que normalmente acontece na juventude, porque é a idade da efervescência e da sedução idealista, exige muita escuta por parte do diretor espiritual e muita coragem por parte dos jovens que, na intimidade do seu coração, dão o seu sim ou o seu não à própria vida.